Fotografar é contar histórias. Isso é o que me apaixona em minha profissão: a possibilidade de contar, por meio de imagens, a história de cada casal, que é singular, única. Mas, nessa receita, é impossível deixar de lado a minha própria história. A história do fotógrafo que registra um casamento, de certa forma, influencia a maneira como a história daqueles noivos será contada. Porque a gente foca e desfoca detalhes, escolhe filtros, ângulos e closes que, provavelmente, outro fotógrafo faria diferente. Sempre tive isso em mente: fotografar é um trabalho autoral.
Mas, acho que nunca isso ficou tão claro para mim quanto quando eu fotografei o casamento do Marcelo e da Adriana. O Marcelo, que também é fotógrafo, me convidou para fazer as fotos de seu casamento. Quando sentamos para conversar, para que eu conhecesse o casal e para que a história deles pudesse me inspirar no trabalho, descobri que as nossas histórias, de certa forma, se cruzavam. E isso foi tão interessante para o resultado do trabalho!
Cachorros salvos na estrada
Um dia, vi uma foto do Marcelo e da Adriana com um cachorro e perguntei a eles sobre o bichinho. Eles me disseram que o nome dela era Leica (como o da máquina fotográfica). Eu, fotógrafo também, achei o nome muito original e quis saber mais sobre ela. Foi então que eles me contaram que a Leica tinha sido resgatada no meio de uma estrada, em Curitiba (onde eles vivem), numa noite chuvosa. Ela ainda era filhote e tinha sido abandonada.
Só por isso, a história já seria emocionante. O que nem o Marcelo nem a Adriana sabiam é que essa é a mesma história da Pelota, minha primeira cachorra, que quando eu nasci já morava com meus pais e que viveu até os 15 ou 16 anos.
A Pelota, na verdade, era a cachorra que meus pais, ainda recém-casados, resgataram em uma estrada, numa noite chuvosa, em Uberlândia, no final dos anos 70. Ela era tão pequena que cabia na palma da mão. Passados alguns anos, minha irmã nasceu. Logo depois, eu nasci. Quando nos mudamos de Uberlândia, a Pelota não pode ir e ficou na casa dos meus avós. Quando íamos passar férias na casa deles, quando chegávamos, a Pelota se desdobrava em festa. Ela sempre demonstrou muito carinho e gratidão para com a minha mãe e sempre cuidou de nós como uma verdadeira irmã mais velha. Muitas vezes deitava em baixo do nosso carrinho, não deixando que nenhum estranho chegasse perto.
Quando o Marcelo e a Adriana me contaram a história da Leica, fiquei super emocionado. Mal pude acreditar em tantas coincidências. E, claro, fiquei com isso na cabeça. Toda vez que via a Leica correndo de um lado para o outro durante o casamento, ou fazendo charminho usando uma coleira de flores, não tinha como não lembrar da velha Pelotinha lá de Uberlândia.
A Pelota e a Leica nunca se conheceram. Mas as histórias das duas mexeram comigo e me inspiraram ao fotografar aquele casamento.